terça-feira, 20 de dezembro de 2011

HPV: Chefe do Setor de DST/UFF vaia Governo Federal e elogia Prefeitura de Campos

Confira o artigo abaixo do Chefe do Setor de Doenças Sexualmente Transmissíveis da Universidade Federal Fluminense (UFF) e editor-chefe do Jornal Brasileiro de DST, Mauro Romero, no qual critica o Governo Federal e elogia as ações da Prefeita Rosinha Garotinho.




Há alguns meses, vimos um ministro de Estado do Brasil, defendendo a  ideia de  que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) deveria aplicar dinheiro público (mais de R$ 500 milhões) na fusão de dois grupos de supermercados (um brasileiro e outro francês).

Há poucos dias, um ex-jogador de futebol, um "fenômeno", em entrevista coletiva, não teve medo ou vergonha de dizer que não se faz Copa do Mundo com hospitais (respondia sobre dinheiro público na construção de estádios de futebol).

Diante disso, defendendo a área em que atuo, sinto-me no dever de exigir mais atenção e mais insumos para a saúde pública, em especial, para as doenças causadas por HPV. Há muito se conhece a carga de doenças produzidas pelos HPVs: das neoplasias intraepiteliais e cânceres anogenitais ao condiloma acuminado (verrugas anogenitais e bucais), passando por papilomatose respiratória recorrente e cânceres de cabeça e pescoço (boca, faringe, laringe).

O combate a estas doenças é uma preocupação mundial, tanto que, em 2008, o professor Harald zur Hauzen foi laureado com o Prêmio Nobel de Medicina pelos seus trabalhos envolvendo o câncer de colo uterino e os HPVs.

Desde 2006 já existe vacina profilática contra HPV, e os gestores públicos de praticamente todos os países ditos desenvolvidos a oferecem, gratuitamente, na rede pública. Neste contexto, destaca-se a Austrália, país que obteve o maior índice de diminuição da incidência de doenças causadas por HPV por meio de vacinação.

Recentemente, inúmeros trabalhos sobre o assunto foram publicados em periódicos científicos. Com base nessas experiências bem-sucedidas, não nos resta outra alternativa se não dizer que os gestores públicos brasileiros, ao não disponibilizarem vacinas contra HPV, principalmente para a população jovem brasileira, deveriam ser responsabilizados civil e criminalmente. Isso porque, ao negarem este benefício para a população, estão fortalecendo práticas que perpetuam as doenças infectocontagiosas causadas por HPV.

Finalizando, nossos aplausos a alguns gestores públicos brasileiros, como os do município de Campos dos Goytacazes (RJ), que, numa ação inovadora, oferecem, há mais de um ano, vacinação contra HPV na rede pública. Por outro lado, nossas vaias, muitas vaias, para o Ministério da Saúde e presidência do Brasil que insistem em negar à população brasileira essa eficaz e segura proteção contra as doenças causadas por HPV.


Niterói, 14 de dezembro de 2011
Mauro Romero Leal Passos 

Médico, professor universitário (Universidade Federal Fluminense); Professor Associado e Chefe do Setor de DST do Departamento de Microbiologia e Parasitologia; Diretor da Editora da UFF (www.editora.uff.br) - Niterói, RJ), Presidente da Comissão Nacional Especializada em Doenças Infecto-contagiosas da Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), Vice Presidente da Sociedade Brasileira de DST, Vice Presidente da Sociedade De G&O do Rio de Janeiro, Editor-chefe do Jornal Brasileiro de DST (www.uff.br/dst), Presidente da ONG Eliminasífilis (www.eliminasifilis.org).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário