domingo, 4 de março de 2012

Para refrescar a memória de Sérgio Cabral, o pai


Por Anthony Garotinho


Eu sei que para um pai muitas vezes o filho não tem defeitos. Jamais alguém pode esperar que o pesquisador Sérgio Cabral vá fazer críticas públicas ao seu filho governador, por mais que deva se sentir envergonhado e constrangido com a calamidade que é sua gestão marcada pela roubalheira. Isso seria pedir demais. Mas pode se cobrar de Cabral pai, coerência e bom senso, que ele não teve ao expressar sua indignação pública com o prefeito Eduardo Paes, que prometeu e desistiu de construir a Casa do Samba, um centro de memória, no prédio do antigo Automóvel Club do Brasil, na Rua do Passeio, no Centro. Ele até teria o direito de cobrar Paes, se seu filho não tivesse feito a mesma coisa: prometeu e não cumpriu construir a Casa do Samba, no antigo Imperator, no Méier.

Recordar é viver



“Recordar é viver” é o título de um samba-enredo da Portela (1985), de autoria do compositor Noca da Portela, mas vamos usá-lo para refrescar a memória de Sérgio Cabral pai e que serve para muitos leitores tomarem conhecimento de um fato que a imprensa faz questão de esconder.

Noca da Portela foi secretário estadual de Cultura no governo Rosinha. Aliás, uma parte da intelectualidade elitista carioca torceu o nariz para a escolha de um secretário ligado à cultura popular e não à erudita. Pois, Rosinha e Noca da Portela deixaram pronto o projeto da Casa do Samba, que seria implantada no antigo Imperator. Não houve tempo de construir porque inicialmente seria no prédio antigo do DETRAN, um casarão na Praça Tiradentes, mas por questões estruturais e de tombamento teve que ser alterado.

Era só Cabral colocar mãos à obra, os recursos estavam previstos no orçamento. Em um ano a Casa do Samba, no Méier seria uma realidade. Mas Cabral, mesmo sendo filho de sambista, não é chegado à cultura popular, só da boca pra fora. Uma das primeiras coisas que fez foi jogar no lixo o projeto da Casa do Samba. Com a eleição de Paes entregou o prédio do Imperator para a prefeitura fazer o que quisesse. Até agora não aconteceu nada.

É claro que Sérgio Cabral pai “enfiou a viola no saco” e não abriu a boca para criticar o filho. É um direito que lhe assiste. Agora querer criticar Paes por repetir o mesmo erro do próprio filho a quem passou a mão na cabeça, aí é pura hipocrisia. O pesquisador Sérgio Cabral pai, que sem dúvida tanto fez pelo resgate da memória do samba não deveria se esquecer desse capítulo triste que teve como vilão seu próprio filho governador. Afinal, recordar é viver!

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